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A cena é corriqueira nos consultórios dos geriatras: ao ser inquerido à respeito das medicações que utiliza, a paciente tira a sacolinha que trazia dentro da bolsa e, com um sorrisinho maroto, despenca sobre a mesa uma dezena de bulas, pedaços de embalagens e alguns comprimidos soltos das mais variadas medicações. Olha para o médico e diz: só isso, doutor! Para sua surpresa, ao contrário de ter uma síncope, o geriatra a agradece por ter trazido suas medicações. Explica que é muito importante a sua análise criteriosa para que possam ser, quando possível… desprescritas! E ainda lhe pergunta: só isso mesmo? Pois é muito comum que a paciente ou seu acompanhante de lembre de mais algum que, muitas vezes, não era nem considerado remédio, ou pior…do temido faixa preta, que, por ser tomado há muito tempo, foi esquecido de ser citado.
Na verdade, a polifarmácia (uso de várias medicações – em geral, mais de cinco), infelizmente, é mais uma regra do que exceção entre os idosos. E uma grande fonte de preocupação do médico, na medida em que existe o risco real de efeitos adversos do uso e das associações dessas medicações. Sabemos que é muito frequente que as pessoas tenham vários médicos as acompanhando. O problema é que, na maioria das vezes, eles não perguntam quais remédios a paciente utiliza e a paciente também não diz. Então eles vão se somando. Muitas vezes, o sintoma que agora está sendo medicado era efeito colateral de outro remédio. Também existem aquelas medicações que estão sendo utilizadas sem um benefício palpável. E aquelas com indicações questionáveis. Também vale lembrar que, com a idade, o organismo muda e as doses devem ser corrigidas. Alguns medicamentos, abolidos.
É claro que a retirada das medicações deve seguir uma lógica, um protocolo definido. Eles existem para nos orientar.
E também não devemos nos martirizar por ter que tomar remédios. Graças aos céus eles existem. Mas não custa nada levá-los às consultas para serem olhados de perto. Mesmo que, muitas vezes, possam não voltar àquela mesma sacola.
Geriatria – Dr Roberto M. Betito
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